Nosso amigo Lech Walesa – Fonte Wikimedia Commons
Lech Walesa é um cara historicamente importante. Ele é um o grande líder da transição polonesa do comunismo para a democracia capitalista, ele enfrentou o domínio soviete na Polônia e devolveu aos poloneses o seu direito de decidir como eles queriam que a sua própria sociedade fosse.
Por esse processo, ele ganhou o prêmio Nobel da Paz e virou presidente do país. Sindicalista como o ex-presidente Lula, é uma figura igualmente polêmica e interessante.
Isso é só um preâmbulo para esse link:
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2013/03/26/lech-walesa-diz-que-minoria-homossexual-persegue-e-castiga-heterossexuais.htm
Caso você, meu amigo leitor, não esteja a fim de ler a notícia, eu vou resumi-la para você: Lech Walesa proferiu alguns comentários contra o movimento gay, e por isso, teve duas palestras que daria nos EUA canceladas. Ele usou isso para expressar que se sente perseguido pelo movimento dos direitos homossexuais. Pediu que as todas as pessoas, inclusive as ligadas ao movimento, sejam menos vocais e mais reservadas, o espaço público seria para outras coisas e não exibição de sexualidade.
Sendo eu um homem branco de classe média (mas se você perguntar pro IBGE a minha classe é altíssima); eu entendo ele. Durante um breve período enquanto eu lia o que ele falava eu concordei com ele, sim eu muitas vezes me sinto perseguido por minorias, eu muitas vezes me sinto ofendido quando, por exemplo, feministas culpam todas as mazelas do mundo nos homens.
Mas foi aí que eu dei um passo para trás. O erro da fala dele é o mesmo erro dessas pessoas que me fazem sentir perseguido. De fato, os homossexuais estão fazendo barulho, estão incomodando; estão incomodando por se sentirem incomodados, por se sentirem cercados, mas dessa vez eles veem escapatória. Eles perceberam que é um momento de tudo ou nada e estão partindo para cima desse momento como se fosse (e talvez de fato seja) a última chance deles de conseguirem fazer o que querem sem que ninguém os incomode ou dite como eles devem viver.
E, infelizmente, são muitas pessoas muito parecidas comigo, que tentam impedir esse movimento dos homossexuais. São pessoas parecidas comigo que oprimiram as mulheres que queriam trabalhar (é isso mesmo, eu não acho que todas as mulheres querem trabalhar; assim como SEI que nem todos os homens querem trabalhar também).
E assim, como o nosso ‘querido’ Lech Walesa; a minha parte é tomada pelo todo. Lech acha que para todo mundo,. duas pessoas do mesmo sexo são algo estranho e repulsivo. Ele me toma como um homem branco de descendência cristã, que deveria sentir a mesma repulsa que ele – só que ele erra, eu acho que todos nós temos o direito de tentarmos achar felicidade nesse mundo; desde que não seja acabando com ele ou matando/ferindo/mutilando outras pessoas (mas se BDSM é a sua praia, aproveite!). E assim como o fato do cara que oprimiu as mulheres se parecer comigo, não significa que seja eu.
O pior de tudo, é que o discurso do Lech é muito insidioso, muito perigoso. E, infelizmente, não é só porque ele é inteligente. É porque ele ressoa: como eu acabei de te dizer acima, durante pouco tempo eu me identifiquei com ele, existe uma parte de mim, que se sente culpada e ao mesmo tempo perseguida, sem um porque real. Mas, diariamente no meu facebook, na teoria acadêmica, no noticiário; vejo acusações diretas e indiretas a ‘mim’ como causador do caos do mundo.
E me sinto oprimido, chateado, sinto que as coisas que fiz de bom na minha vida foram em vão e descartadas para o lado por pessoas que se preocupam em combater injustiças (as quais muitas vezes, eu nem sabia que existiam) e me veem como um símbolo dos causadores dessas injustiças. E daí vem o discurso do sr. Lech Walesa; que só ressoa dentro de mim porque existem pessoas ao meu redor destilando ódio contra pessoas muito parecidas comigo. Porque na visão de vários grupos que lutam por seus direitos, tudo o que eu fizer que não for pedir desculpas, me redimir e me juntar a sua causa é uma continuação da opressão que sempre existiu.
E te garanto, caro leitor, que não sou só eu que me sinto assim. A grande diferença é que eu sei que não é por que momentaneamente me sinto assim, que vou assinar embaixo desse tipo de discurso de ódio; mas entendo muito bem porque ele é sedutor. Entendo como o Feliciano (a quem abomino) possui pessoas razoáveis que o defendem; principalmente quando impedem ele de falar, quando revertem o sistema opressor para cima dele. Não acredito na contra opressão, acredito no contra diálogo, acredito na pluralidade e na capacidade de cada um de nós de tomar conta da própria vida.
Mas é difícil explicar isso para as outras pessoas, geralmente elas tentam enquadrar você; tentam te transformar naquilo que elas querem que você seja, ao invés de te deixar viver a vida que você quer. Eu sei que vou ouvir, e ver pessoas me xingando, falando que sou à favor do Feliciano, do Bolsonaro, etcs. Não, não sou, mas acho que eles tem todo o direito de serem os idiotas que são e de expressarem as suas opiniões ridículas. Tão ridículas, para mim, quanto uma pessoa que tenta defender o Maoísmo como opção viável de sociedade.
Mas você nunca me verá queimando um livro, ou impedindo alguém de falar. Só que ainda assim, conheço um monte de gente como eu que se sente acuada quando vê pessoas impedindo os outros de exercerem as suas opiniões ridículas, os seus comentários vitriólicos e mesquinhos; e infelizmente essas pessoas ficam presas a esse sentimento. E ele cresce, pessoas como Lech Walesa se aproveitam disso. E me parece levar a um inevitável conflito, e isso, simplesmente, me deixa triste.
26 de março de 2013
Categorias: Artigo . Tags:comportamento, responsabilidade, ser humano, Totalitarismo . Autor: oblogdoferrarista . Comments: Deixe um comentário