20 centavos

Até o começo do mês toda a forma de política no Brasil começava com um mestre de cerimônias abrindo a conversa da seguinte maneira: Queria agradecer a presença de fulano, cricrano e beltrano; além da ajuda imprescindível de João, Maria e Fernanda, sem  os quais  esse encontro não seria possível. Isso acontece desde a reunião da associação de moradores da favela, até os mega-comícios e desagua no próprio ethos do legislativo nacional, é muito tempo de pompa e pouco tempo de trabalho; quase sempre. E em 1988, foi muito provavelmente assim que começou o trabalho na constituinte. Com políticos sentando e agradecendo uns aos outros por estarem ali. Gente do calibre do Maluf, ACM e outros. Eram políticos que estavam escrevendo as regras pelas quais eles seriam balizados e julgados a partir daí. A constituição de 88 tem vários avanços, dos quais, não podemos colocar o projeto real de país. Ela é uma constituição mais favorável a um projeto de poder, a manutenção da classe política; do que a criação de uma nação democrática e plural. Não  cabe a mim, mas ainda assim gostaria de levantar uma leve possibilidade de nova constituição:

image_previewConstituição dos 20 centavos:

Artigo 1o– Essa constituição é uma carta feita por pessoas livres para pessoas livres. O objetivo dela, é dar condição para que todas as pessoas que considerem o território Brasileiro como lar, para que se desenvolvam e almejem o melhor que elas podem ser dentro da sua comunidade e vida particulares.

Paragrafo Como tal todos os membros dessa assembleia constituinte renunciam, a partir da data de promulgação dessa constituição, ao direito de concorrer a cargos públicos pelo meio de voto. Com base no texto do artigo 1o; o objetivo dessa constituição não é preparar as lideranças do país, mas sim preparar o país para ser liderado.

Como eu falei, não cabe a mim, não sou eu quem decido isso, ou decido se isso deve ser assim. Mas me daria muito orgulho ver algo bem parecido encabeçando a nossa constituição federal… Feita por médicos, psicologos, arguitetos, sociólogos, cineastas, engenheiros, advogados e etcs. Que voltariam a ser isso depois de acabada a constituinte; sem agradecimentos, sem sorrisos falsos. Só pessoas que querem ajudar o país.

Puxa e empurra

Tem muita gente que vai querer me odiar por esse texto; vão me chamar de fascista, escroto e retrógrado. Principalmente aqueles que não lerem até o final. Porque? Pra mim o que aconteceu ontem foi uma coisa anunciada. Não anunciada, porque o Governador falou que ia impedir o vandalismo, também não foi anunciada porque o prefeito não aceitou a demanda. E muito menos anunciada porque a P.M. é MILITAR, ou é um organismo oriundo da ditadura.

Será que é possível?

Ontem foi uma tragédia anunciada porque haviam várias dinâmicas que envolviam seres humanos, e eu vou tentar lançar um olhar diferente pra elas do que a mesmice que tenho lido.

Conheci pouquíssimas pessoas (pra não falar nenhuma) que se considere um verdadeiro vilão. Principalmente pessoas que se tornam policiais, e olha que existem muitos escrotos na polícia (assim como existem muitos advogados escrotos, muitos vendedores de carro, médicos e etcs). Mas te garanto que todos eles agem por motivos objetivos, que possuem um raciocínio que não é inerentemente perverso.

Antes que você me diga – mas e o policial corrupto? No que te respondo: o policial corrupto é muito mais um cara que está tentando salvar os seus (amigos, parentes, cachorros, etc) do que um cara que quer fazer o mal para o outro. Ele inadvertidamente faz um mal para o outro; mas ele ajuda a senhorinha da vila dele a comprar os remédios para diabete. Mas ele escolhe não ajudar uma estrutura amorfa, cheia de pessoas que o repudiam, mas sim, pessoas que são reais para ele.

Por mais que ele tenha matado, ou chacinado, um ‘suspeito ou outro’; ele entende que na verdade fez um favor a sociedade. O meliante em questão ia matar uma dona de casa, estuprar uma estudante; sacou a arma quando viu a viatura e meteu bala. Porque esse policial não mataria esse cara? Pra ele é simples, ele está do outro lado do cano, na vida dele existe um número razoável de pessoas que quer matar ele só por que ele veste a roupa que veste, trabalha no lugar que trabalha.

Eu sei que tem gente que já está confirmando o que achava antes; que eu sou fascista, reacionário; mas peço que continuem lendo.

Esse mesmo policial de dois parágrafos acima, quando chega em casa tem que pendurar a farda dentro de casa. Porque?  -Ele vive numa área onde chacinas pelo PCC  e outros grupos de crime organizado contra policiais e amigos de policiais é um medo real. A opressão que esse cara sente, domina ele 24 horas por dia.

Em casa, ele não pode ser o policial que é, no trabalho, tem que se preocupar em viver uma guerra que o persegue principalmente nos lugares que mais precisariam dele.

E daí rola uma passeata, duas; a tensão interna delas aumenta.

Ele lê o episódio do policial que foi linchado. E cai um vídeo na internet com pessoas gritando: -É policia! Mata! Pega!

Em cima de tudo isso, o cara vê uma pessoa que é vista como ele, vê o uniforme que poderia ser dele, como alvo de uma turba. E face a tudo isso, ele é destacado para fazer a segurança da próxima passeata. E começa a conversar com os amigos e colegas. Todos tem o mesmo sentimento: de que poderiam ser eles, de que se deixar ser como foi da última vez, eles podem ser o cara; e as coisas podem terminar mal.

Um pouco quietos, um pouco cada um por si, eles chegam a conclusão de que: “-Comigo não!”. Essa massa amorfa de gente na frente dele não vai reduzir ele e os seus amigos a uma mancha de sangue no jornal, na internet. E partem pra cima.

Antes que alguém solte um grito de: -Fascista! Eu não concordo com a atitude. Acho ela repugnante, mas não consigo vê-la como algo que não foi provocado. E aí me/te pergunto: será que a micro-minoria (é o que parecem ser) de arruaceiros das passeatas não queriam isso? Será que esse confronto com a P.M. não serve aos interesses de alguém? E continuo: nessas horas não é muito mais fácil culpar a instituição, do que tentar entender a problemática, que é muito mais complexa? Não é mais fácil culpar o fenômeno do que processo? Não é mais fácil manipular pessoas com raiva do que serenas?

Eu não sei a resposta, mas gostaria de convidar vocês para essa reflexão.

Em tempo: Ainda pretendo ir na Faria Lima na segunda.

Os protestos e a república

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Policial tentando entender a bagunça na qual se meteu – A foto foi roubada do Drago: http://selvasp.com/?p=653

Eu nunca tenho posição tão radical, quanto as pessoas ao meu lado, sobre a maioria das coisas. Entendo a onda de protestos contra o aumento do ônibus, mas acho que ela está sendo feita de uma maneira que não é ideal; não acho que fechar a Marginal ou a Paulista sejam soluções. Imagina, se por algum acaso acontece uma catástrofe ao mesmo tempo, como os bombeiros chegam? Como as ambulâncias levam os casos gravíssimos para o HC?

Mas esse texto não é sobre isso. É sobre a razão dos protestos; mais que justificados,  R$ 3,20 é muito caro para ficar parado no trânsito em latas de sardinha que nem ônibus de verdade são (os nossos ônibus são caminhões convertidos, por isso a escalada pra entrar e sair deles). Mas, como tudo no Brasil, o problema não está no seu governante direto.

A culpa desse aumento, não está nem no Haddad nem no Kassab; nem na Dilma, Lula ou FHC. A culpa desse aumento já tem maioridade, no dia 5 de outrubro ela faz 25 anos. Ela se chama Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Porque culpar a constituição, você me pergunta?

Por uma simples questão, ela declarou o Brasil uma federação de federados alijados. 75% (!) da renda vai para a união, 25% ‘sobram’ pros estados e municípios. Mas para quem sobra o fardo do transporte coletivo, manutenção de infra-estrutura das cidades, ensino e saúde? Pros estados e municípios.

E o que isso tem a ver com os 3,20? Se você for para Paris, Londres, Nova York, Tóquio ou Xangai verá um transporte público eficiente e pesadamente subsidiado. Ah! Mas aqui também deveria ser! No que o leitor mais esperto dirá: – Como!? Se o estado e a prefeitura são responsáveis por isso e tantas outras coisas e recebem só 25% dos impostos recolhidos por eles?

Pois é… uma parcela desse dinheiro está alocada num dos 39 ministérios do governo. E nem culpo a Dilma, afinal, como administrar tanto imposto, de um lugar tão centralizado, sem um número ridículo de ‘gerentes’? E pro pessoal em Brasília, o problema dos protestos, é lá longe, em São Paulo… O que eles têm a ver com isso?

Vejo muito político, muita gente no facebook, muito intelectual falando sobre distribuição de renda, só que ninguém toca no cerne dessa distribuição; não existe distribuição sem descentralização.  Enquanto tivermos burocratas longe, afastados, que controlam (quase) toda a verba, como vamos cobrar deles que paguem o que os nossos impostos foram feitos para custear?

E aí, sim, acho que uma radicalização será merecida, e justificada, cobrar que a nossa constituição seja feita por estadistas, não pessoas preocupadas em ter recursos amplos para fazerem o que bem entenderem.

Eu, Lech Valessa e os ‘Movimentos Sociais’

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Nosso amigo Lech Walesa – Fonte Wikimedia Commons

Lech Walesa é um cara historicamente importante. Ele é um o grande líder da transição polonesa do comunismo para a democracia capitalista, ele enfrentou o domínio soviete na Polônia e devolveu aos poloneses o seu direito de decidir como eles queriam que a sua própria sociedade fosse.

Por esse processo, ele ganhou o prêmio Nobel da Paz e virou presidente do país. Sindicalista como o ex-presidente Lula, é uma figura igualmente polêmica e interessante.

 

Isso é só um preâmbulo para esse link:

 

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2013/03/26/lech-walesa-diz-que-minoria-homossexual-persegue-e-castiga-heterossexuais.htm

 

Caso você, meu amigo leitor, não esteja a fim de ler a notícia, eu vou resumi-la para você:  Lech Walesa proferiu alguns comentários contra o movimento gay, e por isso, teve duas palestras que daria nos EUA canceladas. Ele usou isso para expressar que se sente perseguido pelo movimento dos direitos homossexuais. Pediu que as todas as pessoas, inclusive as ligadas ao movimento, sejam menos vocais e mais reservadas, o espaço público seria para outras coisas e não exibição de sexualidade.

 

Sendo eu um homem branco de classe média (mas se você perguntar pro IBGE a minha classe é altíssima); eu entendo ele. Durante um breve período enquanto eu lia o que ele falava eu concordei com ele, sim eu muitas vezes me sinto perseguido por minorias, eu muitas vezes me sinto ofendido quando, por exemplo, feministas culpam todas as mazelas do mundo nos homens.

 

Mas foi aí que eu dei um passo para trás. O erro da fala dele é o mesmo erro dessas pessoas que me fazem sentir perseguido. De fato, os homossexuais estão fazendo barulho, estão incomodando; estão incomodando por se sentirem incomodados, por se sentirem cercados, mas dessa vez eles veem escapatória. Eles perceberam que é um momento de tudo ou nada e estão partindo para cima desse momento como se fosse (e talvez de fato seja) a última chance deles de conseguirem fazer o que querem sem que ninguém os incomode ou dite como eles devem viver.

 

E, infelizmente, são muitas pessoas muito parecidas comigo, que tentam impedir esse movimento dos homossexuais. São pessoas parecidas comigo que oprimiram as mulheres que queriam trabalhar (é isso mesmo, eu não acho que todas as mulheres querem trabalhar; assim como SEI que nem todos os homens querem trabalhar também).

 

E assim, como o nosso ‘querido’ Lech Walesa; a minha parte é tomada pelo todo. Lech acha que para todo mundo,. duas pessoas do mesmo sexo são algo estranho e repulsivo. Ele me toma como um homem branco de descendência cristã, que deveria sentir a mesma repulsa que ele – só que ele erra, eu acho que todos nós temos o direito de tentarmos achar felicidade nesse mundo; desde que não seja acabando com ele ou matando/ferindo/mutilando outras pessoas (mas se BDSM é a sua praia, aproveite!). E assim como o fato do cara que oprimiu as mulheres se parecer comigo, não significa que seja eu.

 

O pior de tudo, é que o discurso do Lech é muito insidioso, muito perigoso. E, infelizmente, não é só porque ele é inteligente. É porque ele ressoa: como eu acabei de te dizer acima, durante pouco tempo eu me identifiquei com ele, existe uma parte de mim, que se sente culpada e ao mesmo tempo perseguida, sem um porque real. Mas, diariamente no meu facebook, na teoria acadêmica, no noticiário; vejo acusações diretas e indiretas a ‘mim’ como causador do caos do mundo.

 

E me sinto oprimido, chateado, sinto que as coisas que fiz de bom na minha vida foram em vão e descartadas para o lado por pessoas que se preocupam em combater injustiças (as quais muitas vezes, eu nem sabia que existiam) e me veem como um símbolo dos causadores dessas injustiças. E daí vem o discurso do sr. Lech Walesa; que só ressoa dentro de mim porque existem pessoas ao meu redor destilando ódio contra pessoas muito parecidas comigo. Porque na visão de vários grupos que lutam por seus direitos, tudo o que eu fizer que não for pedir desculpas, me redimir e me juntar a sua causa é uma continuação da opressão que sempre existiu.

 

E te garanto, caro leitor, que não sou só eu que me sinto assim. A grande diferença é que eu sei que não é por que momentaneamente me sinto assim, que vou assinar embaixo desse tipo de discurso de ódio; mas entendo muito bem porque ele é sedutor. Entendo como o Feliciano (a quem abomino) possui pessoas razoáveis que o defendem; principalmente quando impedem ele de falar, quando revertem o sistema opressor para cima dele. Não acredito na contra opressão, acredito no contra diálogo, acredito na pluralidade e na capacidade de cada um de nós de tomar conta da própria vida.

 

Mas é difícil explicar isso para as outras pessoas, geralmente elas tentam enquadrar você; tentam te transformar naquilo que elas querem que você seja, ao invés de te deixar viver a vida que você quer. Eu sei que vou ouvir, e ver pessoas me xingando, falando que sou à favor do Feliciano, do Bolsonaro, etcs. Não, não sou, mas acho que eles tem todo o direito de serem os idiotas que são e de expressarem as suas opiniões ridículas. Tão ridículas, para mim, quanto uma pessoa que tenta defender o Maoísmo como opção viável de sociedade.

 

Mas você nunca me verá queimando um livro, ou impedindo alguém de falar. Só que ainda assim, conheço um monte de gente como eu que se sente acuada quando vê pessoas impedindo os outros de exercerem as suas opiniões ridículas, os seus comentários vitriólicos e mesquinhos; e infelizmente essas pessoas ficam presas a esse sentimento. E ele cresce, pessoas como Lech Walesa se aproveitam disso. E me parece levar a um inevitável conflito, e isso, simplesmente, me deixa triste.

 

O Papel Democrático

Procurando o culpado – Bansky

Mais uma vez o governo começa um trabalho para ‘regulamentar’ a mídia (aqui). Regulamentar pois como diz o entrevistado o PT e o governo estão sofrendo uma “ação orquestrada”.

Ação orquestrada por parte dos grandes jornais, das TVs, dos banqueiros, da burguesia e agora o novo dândi dos debates da internet: da classe média. Eu acho que o PT/governo tem que parar de ler Marx e começar a ler Tocqueville e os livros de história.

Porquê? Porque daí eles vão aprender algumas coisas que me cansam ao ver/discutir com pessoas que reproduzem o discurso deles. Entre as coisas que aprenderiam: o Marxismo como ideologia para mudar o mundo faliu. Mao matou de 20 a 45 milhões de pessoas só de fome (é isso aí ‘amiguinho’ foram bem mais), isso sem entrar no mérito de como pode ser pior ou melhor morrer. Na União Soviética somente durante o governo do Stalin morreram ao redor de 20 milhões de pessoas.

E a imprensa, você me pergunta? O papel da imprensa é reclamar do governo. Nem toda a imprensa faz esse papel, durante o governo FHC quem cumpria o papel de criticar cada ato do governo era Carta Capital, hoje quem critica cada ato do governo é a Veja. Isso não significa que eu concorde com nenhuma das duas, mas esse é o papel delas. Por isso na primeira democracia moderna, e a única que foi blindada contra arroubos ditatoriais (ainda que não de maneira tão eficiente quanto o esperado, e sim, estou falando com você patriot act), a primeira emenda é tão importante.

Primeira emenda: “Congress shall make no law respecting an establishment of religion, or prohibiting the free exercise thereof; or abridging the freedom of speech, or of the press; or the right of the people peaceably to assemble, and to petition the Government for a redress of grievances.” em uma tradução livre: O congresso não deverá fazer lei alguma que governe o estabelecimento de uma religião, ou proibindo o e seu exercício livre; ou se relacionando a liberdade de discurso, ou da imprensa; ou o direito das pessoas pacificamente se reunirem e fazerem petições ao governo por reparações de injustiças.

Ela é importante porque os fundadores do conceito de democracia já anteviam que a imprensa seria um ‘pé no saco’ de quem quer governar. Que ela impede, atrasa e critica quem governa, e o caminho mais fácil é o governante tentar impedir ela de questionar quem detém o poder. E que isso era algo essencialmente contra o bem estar ao longo prazo da democracia.

E daí vem o julgamento do mensalão, ‘o julgamento anti-PT’. E a culpa jogada para a imprensa e para o judiciário; e é para entender esse caldo que entra um francês aristocrata pouco conhecido no nosso meio acadêmico (por não ser de esquerda) Alexis de Tocqueville.

Tocqueville foi para os Estados Unidos tentar entender como uma democracia funcionava. E lá ele viu que era uma bagunça. Bagunça dos poderes, o executivo brigando com o judiciário, que brigava com o legislativo. Todos impedindo o outro de ganhar poder excessivo; enquanto a imprensa sambava nesse meio. E que é assim que uma democracia funciona, através de trancos e barrancos. De grandes movimentos refreados por outros poderes, pois no longo prazo eles podem ser danosos para o futuro da democracia.

O problema de tudo isso, o problema que a parte da população que se identifica com um governo (seja ele do FHC, do Lula, do Collor, Maluf e etcs); é que sempre parece que parte da imprensa é vendida, joga contra e etcs. O que é, de fato, verdade. Por isso que os ‘formadores de opinião’ tendem a rumar para veículos de oposição, sempre. Por que eles são muito mais preocupados com os fatos e com os podres do que com a inauguração da nova obra. Quando o PSDB está no governo é melhor confiar em PTista, e vice-versa…

Agora taxar a VEJA de malvada e ‘nazista’ por ser oposição; é o mesmo que achar que a Carta Capital é recheada de santos, ou que o Paulo Henrique Amorim deveria ganhar o Nobel da paz. É uma inverdade e um desserviço ao funcionamento da democracia.

Link de Referência: http://necrometrics.com/20c5m.htm

Dia das Mulheres

  A muitos anos escrevo algo dando parabéns para todas as mulheres por esse dia. Mas comecei a perceber que enquanto eu fui ficando mais velho, foi ficando mais difícil escrever ele. Eu fui percebendo o quanto as relações de gênero estão desgastadas, e como cada vez mais eu fiquei um tanto quanto cético com relação ao o que a mulher como essência pode trazer para a minha vida.
Mas, eu sei, que isso é, em parte, culpar o todo pelos erros de indivíduos. A minha relação foi complicada com a ‘Fernanda’, a ‘Maria’ ou a ‘Clara’. E antes que tomem conclusões precipitadas: essas mulheres não são necessariamente as ex-namoradas e etcs. Aí a relação é complicada, mas são outros 500 (ou 600?).
E através delas não posso culpar todas as mulheres, pois existem muitas mulheres que merecem muito serem louvadas e lembradas nesse dia. Mas elas merecem também serem louvadas e lembradas em todos os dias. Assim como existem homens que merecem o mesmo.
Não me entendam mal, eu não quero um dia dos homens, acho importante um dia para repensar a contribuição que as mulheres tem, tiveram e terão para a nossa sociedade. Acho importante e gosto de dar parabéns para as mulheres nesse dia. É um parabéns com ares de ‘muito obrigado por existir’; muito obrigado por ser diferente de mim, por me mostrar uma visão de mundo que não tenho.
Não tenho essa visão, porque não posso gestar filhos, porque tenho um pênis e não uma vagina (aliás acho que deveríamos fazer um abaixo assinado para mudar o nome da vagina, como algo tão bom pode ter um nome tão estranho?). Porque não menstruo e não consigo ter a relação com o mundo que uma mulher tem.
Muito obrigado por me fazer ver o mundo com outros olhos, me ensinar o que é empatia. O que eu sinto falta na nossa relação de gênero, é que eu sou ‘obrigado’ a reconhecer todas as coisas boas de uma mulher; mas praticamente nunca ouvi uma mulher agradecer a um homem por ser homem. E agradeço a mulher por ser mulher, mas não agradeço meu avô, meu padrasto, meus melhores amigos por serem homens, por serem humanos.
E acho que é isso que eu quero agradecer, quero; sim agradecer às mulheres, as importantes e as não importantes da minha vida por existirem e serem mulheres. Mas também quero agradecer elas por serem humanas, por me proporcionarem todas as possibilidades que um ser humano pode proporcionar a outro ser humano; inclusive as que só as mulheres podem me proporcionar. Mas também quero desagradecer a todas aquelas mulheres que pioraram situações da minha vida; sendo com maneiras que só mulheres podem fazer; quanto com maneiras que todo ser humano possui.

E agora sim: Parabéns pelo dia das Mulheres!

Sobre a ‘Nerdidão’

Ta rolando um leve rebuliço por causa do dia do orgulho nerd… O que no final está me deixando um tanto incomodado.

Estão saindo listas do que você ‘precisa’ para ser Nerd, e se você não é nerd está fora! Nerd é o novo cool..!

E no fim isso não tem nada a ver com o ‘ser nerd’ ser Nerd é gostar de coisas que ‘ninguém gosta’, ou de maneiras que ‘ninguém gosta’ e criar uma sub cultura com linguagem própria ao redor disso. E esse ninguém gosta sempre foi muito definido como ‘as outras pessoas de gosto normal’. Comprar gadgets da apple e ficar esperando o lançamento de um novo eletrônico nunca foi definidor de ser nerd… (isso é algo que alguns nerds faziam, nunca todos; e tão pouco foi/é definidor da ‘cultura nerd’).

Mas o que acontece agora? 30 anos depois do inicio da massificação do computador pessoal; pilotada por pessoas que tinham problemas com o sexo oposto (principalmente homens jovens que também possuíam problemas com higiene pessoal). Parte da cultura nerd/geek foi muito mais revolucionária para a maneira que vivemos do que o sexo livre dos ‘sujinhos legais’. Bill Gates e Steve Jobs são referências mais importantes que “Age of Aquarius”

Junta-se a isso o fato de que nos últimos anos, a indústria do entretenimento entendeu que havia um poço de histórias pelas quais um grupo razoavelmente grande de pessoas era/é apaixonada que mereciam atenção especial pela mídia de massa.

Exemplos de Nerds

Há mais Nerds entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia...

E o Big Bang Theory. Que trouxe para o ‘spotlight’ justamente a essência da cultura nerd, mesmo que de maneira muito branda (não se enganem, gosto muito de Big Band Theory). Citar o Sheldon virou ‘cool’; mesmo que você não saiba o que é fanfic, ComicCon, quem é Stan Lee e que personagens ele criou; que o red hat é muito comercial para o seu gosto, citar pi até a décima casa, não entenda piadas sobre integrais, RPG seja um tipo de exercício, jogar cartas signifique poker, jogo de tabuleiro seja war, Brutus o nome do inimigo do Popeye, a segunda guerra seja somente um evento triste na história, consiga tocar a nona de beethoven na janela do quarto, citar de cabeça os dez melhores guitarristas europeus da história, brigar porque a versão estendida do seu filme favorito só saiu em blu-ray na França (e você quer ter ela, não fazer o download)…

E daí vem alguém me dizer que porque gosta do ‘angry birds’, é fanático por gadgets da moda (tipo iPhone, iPad e variáveis); é Nerd. Todo mundo quer um iPhone. Nerds também querem iPhones, smartphones, tablets. O fato de alguém querer; não viver sem, não faz desse alguém um nerd. Redes sociais não são lugares de Nerds, são lugares de pessoas (e possuem muitas mulheres para serem lugares de proliferação da cultura Nerds). Não que mulheres não façam parte dela, mas a cultura Nerd, é justamente um dos bastiões da ‘masculinidade’ no sentido de ser predominantemente entendida e exercida por homens (perguntem as namoradas dos meus amigos sobre como elas se sentem quando estamos conversando sobre as nossas coisas, além de ‘she-nerds’ verdadieras serem muito raras).

E ela é muito mais difícil de entender/explicar do que parece. Mas uma coisa é certa, dentro da cultura Nerd como um ‘todo’; não existe algo que deixe ‘out’. Não ter iPhone não te faz menos nerd… Mas agora gostar de Star Trek e não de Star Wars é um pecado mortal; que exigirá uma furiosa discussão em fóruns, convenções e provocações até a morte…

Corinthians, Libertadores e ‘povo brasiliero’

Ontem rolou um ‘rebuliço’ na internet (mais especificamente twitter) por causa de uma brincadeira de 1o. de abril. O Globo Esporte paulista brincou com os grandes do estado e deu parabéns ao Conrinthians pelo aniversário do seu campeonato da libertadores. O Corinthians que nunca foi campeão da libertadores, a alguns anos tenta chegar lá, mas sem muita sorte. E os corinthianos se condoeram com isso, pediram desculpas formais do programa e partiram para o que seria uma ‘agressão pesada’ ao seu ver, parabenizando o casamento do Thiago Leifert com um jogador de basquete.

Isso preocupa. Preocupa porque o Conrinthians é a maior torcida paulista, e talvez do Brasil. E uma reação dessa, é uma reação preocupante por denunciar a falta de uma capacidade dentro dessa comunidade formada por milhões de pessoas vindas de todos os espectros da sociedade brasileira (apesar das brincadeiras inter torcidas sugerirem o contrário). A reação de uma parcela razoável dos Corinthanos é um exemplo de como pensa boa parte dos brasileiros: tirem sarro dos outros, não de mim; sou perfeito e ignoro, xingo e escarro quem disser o contrário – mesmo que seja uma verdade fatual.

Porque preocupa? Porque essa mentalidade não assume o contraditório, não assume a mudança ou a disputa legítima entre ideias e interesses… É uma mentalidade de raiz essencialmente totalitarista. É a mentalidade que grande parte da ‘elite intelectual’ não conseguia entender o teor da relação do público com o Lula por exemplo. Para uma porcentagem das pessoas, ele estava mentindo ao discursar sobre várias questões – mensalão por exemplo – e uma considerável parcela da população não via ou conseguia entender isso.

Como o presidente mentiria? Como o Corinthians pode ser algo que não é e mesmo assim continuar existindo como ‘gloriosa nação’? A aceitação de que de paradoxos é essencial a vida, e ainda mais, essencial para a democracia. O extermínio do descenso não faz bem a ninguém; ainda mais porque ele normalmente é burro, no exemplo do Corinthians a raiva recaiu, em grande parte, sobre Thiago Leifert: o apresentador.

Que assim como Lula foi/é é parte do processo, e não englobador do processo como um todo. Quanto mais a nossa sociedade brasileira ‘cresce’ mais latente fica a sua incapacidade de lidar com a complexidade real do mundo. Menos preparado é um brasileiro pra perceber que não existe, de fato, um único controlador do seu destino; mas sim muitas instâncias. Talvez por isso as igrejas do ‘Deus fácil’ abundem por aqui, ou o populismo barato ainda seja tão fértil. Talvez inclusive, por isso o futebol brasileiro tenha estádios tão vazios e torcidas tão violentas.

Porque somos incapazes, como sociedade, de intender que suporte ao esporte está além da ‘guerra de gangues’ e da exterminação do rival. O rival é parte essencial do espetáculo e do que gostamos de ver. Sem a oposição, o óbvio prevalece e no longo prazo as coisas degringolam. E Sócrates já dizia isso para Péricles, mas isso é para outro dia e outras ‘conversas’.

Sobre o amor

É a mesma história de sempre, de músicas, filmes livros e vidas. Pessoa encontra pessoa e ambas começam a se gostar, sair mais e de repente estão se amando. Se amando de falar ‘io ti amo’ juntinho no ouvido um do outro. Se amam de ligar pra ouvir a voz do outro; e por motivos tão inexplicáveis como o motivo pelo qual começaram a sentir uma falta incomensurável um do outro se magoam, se separam e se machucam.

Por uma série de motivos, razões e etcs; que me parecem na maioria das vezes ligadas a uma só característica: responsabilidade. Quando amamos, e fazemos loucuras por amor, agimos na maioria das vezes por um impulso egoísta, que tem a ver com as nossas necessidades e carências. O amor que na maioria das vezes vejo materializado me parece ver de uma relação que encara o outro como um passivo que, na maioria das vezes, existe para cumprir uma função dentro da nossa vida.

E essa hora que uma fala do Luiz Felipe Pondé ressoa na minha cabeça “A pessoa que você ama tem o poder de, com uma só palavra, arruinar ou maravilhar o seu dia”. Eu conheço poucas coisas que conseguem atingir tal força e com tamanha constância. Pois podemos ver um filme, ler um livro… que mudem várias percepções e estados emocionais nossos; mas uma eventual re-exposição a isso não possui a mesma força que uma pessoa amada pode proporcionar em você, com um simples gesto, repetidas vezes.

E nós vamos andando, nos comportando e exigindo dos outros que atendam aos nossos anseios, que cumpram um papel estabelecido de acordo com o que você quer; quando deveríamos nos debruçar um pouco por sobre esse poder que temos. Poder do qual advém responsabilidade, para com a pessoa que amamos, se conseguimos somente com uma palavra, com um gesto, modificar radicalmente o dia de uma pessoa pela qual temos sentimentos profundos, como podemos nós nos comportar como se essa pessoa deveria só nos satisfazer? Estar ali só para atingir as nossas marcas e padrões pré estabelecidos. Quando na verdade não vemos/percebemos que de fato temos, sim uma imensa responsabilidade que vem do fato de meramente existirmos.

Quando temos a capacidade de com um olhar, com uma entrada no ambiente, mudar completamente a maneira que uma outra pessoa interage e reage com o mundo; deveríamos tomar muito cuidado com o que fazemos e como o fazemos. O problema, de novo, é que nunca nos vemos como protagonistas disso; como os atores do que acontece, sempre nos enxergamos como o passivo. Como quem sofre os efeitos ao entrar na sala e vermos a pessoa amada e mudamos, nós mesmos, de atitude. E acabamos por esquecer desse outro lado, importantíssimo da moeda; de que possuímos nós mesmos a capacidade de fazer o mesmo.

Possuímos a capacidade e qualidade de melhorar ou piorar ‘instantaneamente’ a reação dessa outra pessoa, e isso é um dom nos concedido por ela, assim como os candidatos a presidente tentam nos convencer de que o fato de poderem ser eleitos é um dom concedido por nós, e por isso têm responsabilidade conosco. Esquecemos dessa carga, desse poder e fardo que carregamos ao cedermos nosso coração para montarmos um suporte que dependa dos dois. Citando uma música sarrista e muito divertida : “Eu até cortaria meu pênis por você¹”. Tomemos cuidado com o que fazemos e pedimos para aqueles que amamos, pois eles podem fazer isso apesar da preservação própria, sem pensar que isso pode ser prejudicial para si mesmos, todos os outros e inclusive a relação de vocês…

¹”I’ll even cut my penis down for you” She has a girlfreind now do Reel Big Fish

Humanismos

O ser humano como coletividade é um bicho beem complicado. Complicado, digo eu, pois na verdade ele é quase burro. Quase. Porque quase? Porque nós sabemos, entendemos a noção de longo prazo, mas a nossa inefável e infalível mortalidade nos arrasta para uma situação onde acabamos fazendo besteiras, das piores possíveis.

Vejamos exemplos: A alguns anos atrás, existiam previsões de que entre 2011 e 2013 o e-mail seria uma ferramente inutilizável. O ser humano na sua fúria cega havia criado uma grande ferramenta só para depois inundá-la de spam sobre viagra, pornografia e primeiros ministros da Etiópia. Seria o primeiro recurso nosso a ser esgotado da face da terra. Só que conseguimos reagir e criar uma tática de anti-spam eficiente após isso. Veja bem; anti-spam. Não é que pararam de fazer a prática que levaria à extinção do e-mail; ela ainda existe, mas criamos táticas para barrá-lo e impedir que ele acabasse com a nossa auto destruição programada.

A copa do mundo acabou de acabar, com um jogo dos mais medíocres, e o Brasil jogou um futebol igualmente chato. A desculpa para o futebol apresentado sempre foi: esse é um futebol ganhador. O futebol que vimos na final também seria um ‘futebol ganhador’. E também um futebol matador. Pois se eu tivesse cerca de doze anos de idade, e tivesse acompanhado essa copa com o afinco de um moleque de doze anos de idade, é provável que essa final tivesse matado o meu afinco de ver outras copas.

Assim como uma porcentagem razoável das pessoas que conheço que pararam para ver a final. Assim como os 700 milhões (!) de pessoas que viram a final, provavelmente pensarão duas vezes antes de pararem de frente aos seus televisores para ver a próxima final.

A verdade é que o nosso grande problema está em conseguir fazer julgamentos com relação a decisões/prazeres a curto prazo e benefícios a longo prazo, especialmente quando eles estão relacionados à coletividade. Lembra aquela batida de carro besta?A que você poderia ter evitado se não estivesse mandando mensagem no celular, ou terminando de ler o artigo na revista? E o leve congestionamento que ela causou? Quem garante que atrás de você não estava uma ambulância que levava uma paciente crítico, e que ela demorou justamente o um minuto a mais que fez com que o paciente não fosse salvo? Afora a conta do mecânico, a sua e do cara em que você bateu.

A verdade é que não temos como saber disso, e que o fato de ser um completo desconhecido, e somente uma mera possibilidade, nos faz tirar essas idéias da nossa cabeça. Só espero que ninguém resolva fazer uma lei baseada em acidentes de transito e ambulâncias, o que, infelizmente, me parece mais provável do que a perspectiva de que nós conseguiremos pensar nas em mudar as possibilidades antes de esgotá-las.