Humanismos

O ser humano como coletividade é um bicho beem complicado. Complicado, digo eu, pois na verdade ele é quase burro. Quase. Porque quase? Porque nós sabemos, entendemos a noção de longo prazo, mas a nossa inefável e infalível mortalidade nos arrasta para uma situação onde acabamos fazendo besteiras, das piores possíveis.

Vejamos exemplos: A alguns anos atrás, existiam previsões de que entre 2011 e 2013 o e-mail seria uma ferramente inutilizável. O ser humano na sua fúria cega havia criado uma grande ferramenta só para depois inundá-la de spam sobre viagra, pornografia e primeiros ministros da Etiópia. Seria o primeiro recurso nosso a ser esgotado da face da terra. Só que conseguimos reagir e criar uma tática de anti-spam eficiente após isso. Veja bem; anti-spam. Não é que pararam de fazer a prática que levaria à extinção do e-mail; ela ainda existe, mas criamos táticas para barrá-lo e impedir que ele acabasse com a nossa auto destruição programada.

A copa do mundo acabou de acabar, com um jogo dos mais medíocres, e o Brasil jogou um futebol igualmente chato. A desculpa para o futebol apresentado sempre foi: esse é um futebol ganhador. O futebol que vimos na final também seria um ‘futebol ganhador’. E também um futebol matador. Pois se eu tivesse cerca de doze anos de idade, e tivesse acompanhado essa copa com o afinco de um moleque de doze anos de idade, é provável que essa final tivesse matado o meu afinco de ver outras copas.

Assim como uma porcentagem razoável das pessoas que conheço que pararam para ver a final. Assim como os 700 milhões (!) de pessoas que viram a final, provavelmente pensarão duas vezes antes de pararem de frente aos seus televisores para ver a próxima final.

A verdade é que o nosso grande problema está em conseguir fazer julgamentos com relação a decisões/prazeres a curto prazo e benefícios a longo prazo, especialmente quando eles estão relacionados à coletividade. Lembra aquela batida de carro besta?A que você poderia ter evitado se não estivesse mandando mensagem no celular, ou terminando de ler o artigo na revista? E o leve congestionamento que ela causou? Quem garante que atrás de você não estava uma ambulância que levava uma paciente crítico, e que ela demorou justamente o um minuto a mais que fez com que o paciente não fosse salvo? Afora a conta do mecânico, a sua e do cara em que você bateu.

A verdade é que não temos como saber disso, e que o fato de ser um completo desconhecido, e somente uma mera possibilidade, nos faz tirar essas idéias da nossa cabeça. Só espero que ninguém resolva fazer uma lei baseada em acidentes de transito e ambulâncias, o que, infelizmente, me parece mais provável do que a perspectiva de que nós conseguiremos pensar nas em mudar as possibilidades antes de esgotá-las.

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